segunda-feira, 11 de março de 2013

O PAPA QUE QUEREMOS



Sonho um papa que saiba amar o mundo

Ontem, diante do meu computador, me apareceu, por acaso, o discurso na integra do Pastor Americano Martin Luther King "I Have a Dream" (Eu teve um sonho), discurso que proclamou na famosa marcha da liberdade, a “Marcha sobre Washington” de 1963:
" Eu tenho um sonho de que, um dia, nas rubras colinas da Geórgia, os filhos de antigos escravos e os filhos de antigos senhores de escravos poderão sentar-se juntos à mesa da fraternidade.
 Eu tenho um sonho de que, um dia, até mesmo o estado de Mississipi, um estado sufocado pelo calor da injustiça, será transformado num oásis de liberdade e justiça.

Eu tenho um sonho de que meus quatro filhinhos, um dia, viverão numa nação onde não serão julgados pela cor de sua pele e sim pelo conteúdo de seu caráter. 

Sonho com um dia em que a justiça correrá como água e a retidão como um caudaloso rio.
Aprendemos a voar como os pássaros, a nadar como os peixes; mas não aprendemos a simples arte de vivermos junto como irmãos.
Quando deixarmos soar a liberdade, quando a deixarmos soar em cada povoação e em cada lugarejo, em cada estado e em cada cidade, poderemos acelerar o advento daquele dia em que todos os filhos de Deus, homens negros e homens brancos, judeus e cristãos, protestantes e católicos, poderão dar-se as mãos e cantar com as palavras do antigo spiritual negro: " Livres, enfim. Livres, enfim. Agradecemos a Deus, todo poderoso,
somos livres, enfim”.

Lendo esta pagina, pensei no esforço que o mundo inteiro está fazendo, nestes dias, para dar palpites sobre a eleição do novo papa e comecei a sonhar pensando que o meu sonho é somente um pobre sonho, mas com uma segreda esperança que o sonho possa ajudar os amigos/as leigos xaverianos a formar a sua consciência sobre o imenso valor de ter um papa “nosso”, que amamos e apreciamos.

Dizia o presidente da República da África do Sul

Nelson Mandela

“A paz não é um sonho,

deve se tornar realidade,

mas para guardá-la precisa

 ser capazes de sonhar”.

 
Claro que todos os 115 cardeais de santa romana igreja possuem as qualidades para ser papa, pode ser brasileiro, africano, chinês, canadense, europeu, mas vem aí a pergunta: estes futuros papas terão a capacidade de valorizar o papel da Igreja no mundo de hoje?

Por isso sonhamos um papa diferente:

Um papa capaz de partilhar a sua felicidade de ser humano com a humanidade, proclamando que todos os “viventes” são felizes porque amados por Deus e fontes de amor.
     
 Um papa que ame o mundo, homens e mulheres, crianças e idosos, jovens e adultos, de qualquer raça o religião, assim como Deus os ama, com as mesmas ternuras dele. Um papa chamado a ser “Artesão da reconciliação e portador da esperança”, segundo o caminho indicado das Bem-Aventuranças (Mt 5 sg)

 Um papa que convide todas as comunidades a aplicar este amor particularmente para com os mais pobres e a comprometer-se para a construção de um sociedade mais justa, mais fraterna e mais solidária. Isso Cristo Jesus chama “Reino de Deus" 

Dizia Dom Helder Camara: "Se eu dou comida para os pobres me chamam de santo. Se eu perguntar por que os pobres não tem comida, me chamam de comunista e subversivo"
 



Dizia Madre Teresa de Calcutá, a missionária da sarjeta, premio Nobel da paz:


·         Um papa que seja capaz de escutar os desafios do mundo moderno, num diálogo sereno, como fez Jesus, 2000 anos atrás, com a Samaritana, mulher de má fama, herética, inimiga dos hebreus e totalmente anti-católica com os seus cinco maridos e um companheiro!
No estilo de Jesus, o bom Pastor:"Eu sou o Bom Pastor. Eu dou a vida para minhas Ovelhas"
"Ninguem tira a minha vida, eu a dou livremente"


   Um papa que seja capaz de achar as palavras certas para que a Igreja proclame ao mundo a sua mensagem de amor e promoção da vida, não através as proibições e as condenações, mas com o calor do amor que convida a ter o máximo respeito para o ser humano.


   Um papa que tenha na mão o leme do barco de Pedro e saiba mudar as regras do Vaticano.

    Um papa que saiba escutar “os sinais do tempo”, como diz o Concílio Vaticano II. Vamos reler o “pacto das Catacumbas” promovido por dom Helder Câmara, que vou anexar no fim. 

    Um papa que renuncie à aparência e à realidade da riqueza, especialmente no traje (fazendas ricas, cores berrantes), nas insígnias de matéria preciosa (devem esses signos, ser, com efeito, evangélicos). Cf. Mc 6,9; Mt 10,9s; At 3,6.
Nem ouro nem prata. (cfr Pacto das Catacumbas,nº2)


  Um papa que recuse de ser chamado com nomes e títulos que signifiquem a grandeza e o poder (Santidade, Eminência, Excelência, Monsenhor...).
Melhor ser chamados com o nome evangélico de Padre. Cf. Mt 20,25-28; 23,6-11; Jo 13,12-15. (cfr Pacto das catacumbas nº 5)

Um papa que abra com coragem espaço às conferências episcopais de cada continente, caminho já indicado na “Gaudium e Spes” (documento do Vaticano II), para a solução dos problemas das Igrejas locais e para uma atualização eficaz das mensagens do Evangelho. O princípio da subsidiariedade é válido também para a Igreja e não somente para a sociedade civil. 

 Um papa que viva com alegria o serviço a fazer a favor da Igreja, lembrando o pensamento de Santo Agostinho:



Atemoriza-me o que sou para vós; consola-me o que sou convosco. Para vós sou bispo e convosco sou cristão. Aquilo é um dever, isto é uma graça. O primeiro é um perigo, o segundo é salvação.

Um papa que saiba amar nossa Senhora como a amam o povo de Belém e do Pará Brasil

 


É um sonho e nada mais. Pode porém ajudar todos nós, amigos/as leigos xaverianos, a amar a nossa Igreja, dela recebemos o mais lindo presente da nossa vida, a BOA NOVA do Amor do Pai.  Com o papa queremos ser a “Trindade que ama” toda a humanidade.

Belém 10-03-2013

Pe. Marcello Zurlo
Diretor espiritual do GAMIX

ANEXO O PACTO DAS CATACUMBAS promovido por Dom Hélder Câmara



PACTO DAS CATACUMBAS DA IGREJA
SERVA E POBRE
Assinado por 40 Padres Conciliares1
Nós, Bispos, reunidos no Concílio Vaticano II, esclarecidos sobre as deficiências
de nossa vida de pobreza segundo o Evangelho; incentivados uns pelos outros,
numa iniciativa em que cada um de nós quereria evitar a singularidade e a
presunção; unidos a todos os nossos Irmãos no Episcopado; contando sobretudo
com a graça e a força de Nosso Senhor Jesus Cristo, com a oração dos fiéis e dos
sacerdotes de nossas respectivas dioceses; colocando-nos, pelo pensamento e
pela oração, diante da Trindade, diante da Igreja de Cristo e diante dos
sacerdotes e dos fiéis de nossas dioceses, na humildade e na consciência de
nossa fraqueza, mas também com toda a determinação e toda a força de que
Deus nos quer dar a graça, comprometemo-nos ao que se segue:
1) Procuraremos viver segundo o modo ordinário da nossa população, no que
concerne à habitação, à alimentação, aos meios de locomoção e a tudo que daí se
segue. Cf. Mt 5,3; 6,33s; 8,20.
2) Para sempre renunciamos à aparência e à realidade da riqueza, especialmente
no traje (fazendas ricas, cores berrantes), nas insígnias de matéria preciosa
(devem esses signos ser, com efeito, evangélicos). Cf. Mc 6,9; Mt 10,9s; At 3,6.
Nem ouro nem prata.
3) Não possuiremos nem imóveis, nem móveis, nem conta em banco, etc., em
nosso próprio nome; e, se for preciso possuir, poremos tudo no nome da diocese,
ou das obras sociais ou caritativas. Cf. Mt 6,19-21; Lc 12,33s.
4) Cada vez que for possível, confiaremos a gestão financeira e material em
nossa diocese a uma comissão de leigos competentes e cônscios do seu papel
apostólico, em mira a sermos menos administradores do que pastores e
apóstolos. Cf. Mt 10,8; At. 6,1-7.
5) Recusamos ser chamados, oralmente ou por escrito, com nomes e títulos que
signifiquem a grandeza e o poder (Eminência, Excelência, Monsenhor...).
Preferimos ser chamados com o nome evangélico de Padre. Cf. Mt 20,25-28;
23,6-11; Jo 13,12-15.
6) No nosso comportamento, nas nossas relações sociais, evitaremos aquilo que
pode parecer conferir privilégios, prioridades ou mesmo uma preferência qualquer
aos ricos e aos poderosos (ex.: banquetes oferecidos ou aceitos, classes nos
serviços religiosos). Cf. Lc 13,12-14; 1Cor 9,14-19.
7) Do mesmo modo, evitaremos incentivar ou lisonjear a vaidade de quem quer
que seja, com vistas a recompensar ou a solicitar dádivas, ou por qualquer outra
razão. Convidaremos nossos fiéis a considerarem as suas dádivas como uma
participação normal no culto, no apostolado e na ação social. Cf. Mt 6,2-4; Lc
15,9-13; 2Cor 12,4.
8) Daremos tudo o que for necessário de nosso tempo, reflexão, coração, meios,
etc., ao serviço apostólico e pastoral das pessoas e dos grupos laboriosos e
1 No dia 16.11.1965 cerca de 40 Padres Conciliares celebraram nas catacumbas de
Domitila uma Eucaristia pedindo fidelidade ao Espírito de Jesus. Após essa celebração
alguns deles firmaram o "Pacto das Catacumbas". Ver in: KLOPPENBURG, Boaventura
(org.). Concílio Vaticano II. Vol. V, Quarta Sessão. Petrópolis: Vozes, 1966, 526-528.
economicamente fracos e subdesenvolvidos, sem que isso prejudique as outras
pessoas e grupos da diocese. Ampararemos os leigos, religiosos, diáconos ou
sacerdotes que o Senhor chama a evangelizarem os pobres e os operários
compartilhando a vida operária e o trabalho. Cf. Lc 4,18s; Mc 6,4; Mt 11,4s; At
18,3s; 20,33-35; 1Cor 4,12 e 9,1-27.
9) Cônscios das exigências da justiça e da caridade, e das suas relações mútuas,
procuraremos transformar as obras de "beneficência" em obras sociais baseadas
na caridade e na justiça, que levam em conta todos e todas as exigências, como
um humilde serviço dos organismos públicos competentes. Cf. Mt 25,31-46; Lc
13,12-14 e 33s.
10) Poremos tudo em obra para que os responsáveis pelo nosso governo e pelos
nossos serviços públicos decidam e ponham em prática as leis, as estruturas e as
instituições sociais necessárias à justiça, à igualdade e ao desenvolvimento
harmônico e total do homem todo em todos os homens, e, por aí, ao advento de
uma outra ordem social, nova, digna dos filhos do homem e dos filhos de Deus.
Cf. At. 2,44s; 4,32-35; 5,4; 2Cor 8 e 9 inteiros; 1Tim 5, 16.
11) Achando a colegialidade dos bispos sua realização a mais evangélica na
assunção do encargo comum das massas humanas em estado de miséria física,
cultural e moral - dois terços da humanidade - comprometemo-nos:
- a participarmos, conforme nossos meios, dos investimentos urgentes dos
episcopados das nações pobres;
- a requerermos juntos ao plano dos organismos internacionais, mas
testemunhando o Evangelho, como o fez o Papa Paulo VI na ONU, a adoção de
estruturas econômicas e culturais que não mais fabriquem nações proletárias
num mundo cada vez mais rico, mas sim permitam às massas pobres saírem de
sua miséria.
12) Comprometemo-nos a partilhar, na caridade pastoral, nossa vida com nossos
irmãos em Cristo, sacerdotes, religiosos e leigos, para que nosso ministério
constitua um verdadeiro serviço; assim:
- esforçar-nos-emos para "revisar nossa vida" com eles;
- suscitaremos colaboradores para serem mais uns animadores segundo o
espírito, do que uns chefes segundo o mundo;
- procuraremos ser o mais humanamente presentes, acolhedores...;
- mostrar-nos-emos abertos a todos, seja qual for a sua religião. Cf. Mc 8,34s; At
6,1-7; 1Tim 3,8-10.
13) Tornados às nossas dioceses respectivas, daremos a conhecer aos nossos
diocesanos a nossa resolução, rogando-lhes ajudar-nos por sua compreensão,
seu concurso e suas preces.
AJUDE-NOS DEUS A SERMOS FIÉIS