sábado, 4 de maio de 2013

PRIMEIRA CAPELA DEDICADA A SÃO GUIDO MARIA CONFORTI NO INTERIOR DA AMAZÔNIA



A primeira capela dedicada a S. Guido Maria Conforti no Interior da Amazônia

Penetrar no coração da Floresta Virgem da Amazônia ainda é  um grande ideal para os Missionários Xaverianos, que, desde 1961, anunciaram a presença de Reino de Deus nestas terras dispersas no "fim do mundo".
Escreve o missionário Xaveriano, Padre Mario Lanciotti  (1901-1983) que por primeiro
fincou o pé nestas terras de Abaetetuba em março de1961, vindo da China: “...Trabalhei na China e no Japão, mas aqui na Amazônia, em Abaetetuba, no Xingu, sinto toda a beleza e sublimidade de meu sacerdócio missionário. Aqui posso ficar à disposição dos pobres. Aqui me sinto verdadeiro missionário do Pai... Não fiz nada de extraordinário e notável. Para mim, trabalhar aqui como missionário, foi uma verdadeira bênção de Deus. Estou velho e quase cego e já posso fazer pouca coisa. Desejo ser enterrado nesta terra abençoada, pobre entre os pobres”.

No coração da Amazônia pode ser encontrado ainda hoje muitas pessoas cristãs, "batizadas mas não evangelizadas".
Vou publicar aqui um caso típico, perdoe-me:
Era véspera de Natal. Encontrava-me sentado num banco da Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. A Capela estava preparada para a festa. Num canto, a Irmã Adelina tinha preparado o Presépio, colocando toda a sua arte para que o Presépio fosse uma reprodução autêntica do nosso ambiente amazônico. Em lugar do berço coberto de palha, deitou o Menino numa pequena rede amarrada entre duas palmeiras, na entrada da gruta.
Eu estava rezando o breviário na espera de penitentes para a confissão. O primeiro a chegar foi um homem de 30/40 anos de idade. Entrou me cumprimentou e foi direto em direção ao Presépio. Ficou contemplando-o, demoradamente, imóvel.
Em seguida, eu me aproximei e perguntei-lhe:
- De onde vens?
- Do Km 185 da Transamazônica.
- De que Estado és?
- Do Ceará.
- Gostas deste Presépio?
- É bonito, muito bonito!
- Sabes o que representa?
Balançou a cabeça em sinal negativo.
- Sabes que o Natal nos lembra o nascimento de Jesus?
Mais uma vez balançou a cabeça em sinal negativo.
- Mas tu és católico?
- Graças a Deus! Meu padrinho foi João Lopes dos Santos e minha madrinha, Dona Jurandina, sua esposa.
- E tu não sabes o que é o Natal?
- Eu sei. Natal é Natal: uma grande festa!

Compreendi que estava à minha frente um dos muitos católicos que são batizados, mas não evangelizados.
Até aí não tinha chegado ninguém para as confissões. Comecei uma catequese simples e clara para Jurumi (era seu nome). O interesse por ele demonstrado me deixou muito surpreendido.
- Jurumi, quando podes voltar para continuar esta conversa?
Veio por treze dias consecutivos. Demonstrava um raro interesse, como dificilmente encontramos no mundo afora. Pedia informações, queria saber tudo. E tudo tinha que ser feito oralmente, pois era analfabeto, no verdadeiro sentido da palavra. Minha preocupação era de fazê-lo compreender, com palavras simples, o porquê do nascimento de Jesus e as consequências práticas do Natal em nossa vida.
No último dia agradeceu-me tudo com verdadeira sensibilidade.
- Padre, o Natal de Jesus fez-me compreender muitas coisas. Entendi que a vida não é uma brincadeira. Deve ser assumida seriamente. O que verdadeiramente tem valor é nos amarmos como Ele nos amou. Quando tiver a oportunidade de voltar à cidade, não deixarei de te visitar, para aprender muitas outras coisas.
Passaram-se seis ou sete meses. Um domingo, depois da Missa, uma mulher, com um menino nos braços, aproximou-se de mim.
- O senhor é o Padre Marcelo?
- Sim, por quê?
- Eu sou a esposa de Jurumi, aquele homem do Ceará, que pela festa do Natal veio aqui e o senhor o instruíram na religião.
- Ah! Lembro-me. Como está ele?
- Está bem, graças a Deus! Eu venho para agradecer ao senhor, Padre, porque meu esposo voltou completamente mudado e, desde aquele dia, começou a viver outra vida. O pensamento do Natal de Jesus nunca mais o abandonou. É um ótimo esposo, um ótimo pai, um ótimo amigo com os vizinhos. Tornou-se generoso e ajuda o próximo o quanto pode. Ele quer que eu fique aqui por uns dias para me instruir. Meu esposo me disse que se eu não aprender Religião, nossa família nunca será como a família de Jesus...”.
Diante de semelhantes situações de “pessoas batizadas, mas não evangelizadas”, nosso amigo xaveriano pe. Hilário Trapletti encontra-se faz dez anos na grande missão do município de Tomé-açu, aproximadamente a 200 km de Belém, a capital da Amazônia. Existem cerca de cem comunidades cristãs espalhadas no meio da floresta.
P. Hilario, com 40 anos de vida em Amazônia, sabe que não pode fazer tudo, que não consegue catequizar todo o seu povo. Pensou de realizar uma coisa interessante: “vou construir uma bela capela para cada comunidade.Eu não sou eterno, tenho quase oitenta anos, mas as capelas vão ficar como sinal da vinda de Cristo Jesus também no meio deste povo abndonado”.
Ele construiu nos últimos anos, em Tomé-açu, mais de 80 capelas, para ser preciso 82. Graças também à ajuda da sua sobrinha Fúlvia e de outros amigos italianos, formou uma turma de operários, fieis e expertos, para a construção das capelas, todas lindas, todas diferentes, todas promovidas por comunidades cristãs, que, não podendo ter o padre (Hilário vai lá uma vez ou duas vezes por ano), organizam todo domingo a liturgia da palavra de Deus.
A penúltima capela (a última nunca vem) tem sido um sonho da juventude de Hilário, quando  decidiu de fazer parte da família saveriana, fundada por São Guido Maria Conforti.
 Precisava construir uma capela dedicada a este Santo Fundador, Bispo de Parma e missionário para o mundo.
 Para realizar o seu sonho,escolheu uma aldeia, cerca de 70 km da cidade de Tomé-Açú, a aldeia de Kurimá, onde cerca de 200 pessoas vivem de subsistência, cultivo de arroz, milho, mandioca, frutas tropicais... no meio da mata virgem. Não há eletricidade, a água é de igarapé (rio pequeno), as casas são de taipa, mas as pessoas são símplices, amigáveis, abertas, muito mais felizes do que aqueles que vivem em cidades.
Aqui também o Santo Guido Conforti encontraria a sua felicidade, vivendo e evangelizando um povo que merece.
 Aqui, no “fim do mundo”, Hilário, impulsionado pela alegria de sentir-se xaveriano, construiu sua penúltima capela dedicada a Guido Maria Conforti.
Vou anexar as fotos de todas as capelas de Hilario. Fica como convite para quem quiser visitá-las.
Belém 01-05-2013 Festa do trabalhador
Pe. Marcello Zurlo
Diretor espiritual dos Amigos Xaverianos (GAMIX)