Queridos
Leigos Amigos Xaverianos da Amazônia
Parece-me
justo agradecer ao Santo Antônio publicando algo sobre a sua vida, para que a
devoção popular ao Santo possa ser conhecida sempre mais.
Quando eu
tinha quatro anos de idade, no ano 1936, peguei uma doença mortal, a meningite cérebro-espinha dorsal.
O doutor tinha decretado morte certa. Mas minha mãe quis me vestir de Santo
Antônio de Pádua e a ele me consagrou para ser padre. O dia seguinte estava em
perfeita saúde. A única coisa que me lembro da minha infância foi a viagem até
Pádua, 30 km longe
Agora que
tenho mais de oitenta anos, quero mais uma vez agradecer ao Santo pelo dom da
vida e pela felicidade de viver como missionário xaveriano em terra da
Amazônia, no meio de um povo querido e fraterno.
13 de junho de 2013
Pe. Marcello Zurlo
Diretor espiritual dos Leigos
Amigos Xaverianos da Amazônia
VIDA DE SANTO ANTÔNIO DE PÁDUA
Antônio,
desde jovem, entrou em contato com os primeiros missionários franciscanos, que eram a caminho do Marrocos para evangelizar os mouros. A pregação do Evangelho destes missionários no espírito de
simplicidade, idealismo e fraternidade franciscana, deve ter tocado o
sentimento de Antonio. Entretanto, uma impressão ainda mais forte ocorreu
quando os corpos desses frades, mortos em sua missão em Marrocos, voltaram a
Coimbra, onde foram honrados como mártires. Então Antônio,autorizado a juntar-se aos
franciscanos, viajou para Marrocos,e iniciou sua nova missão em busca do
martírio.
A sua missão
Mas,
chegado em Marrocos, foi acometido por grave doença, sendo persuadido a
retornar. Fê-lo desalentado, já que não havia proferido um único sermão, não
convertera nenhum mouro, nem alcançara a glória do martírio pela fé. No
regresso, uma forte tempestade arrastou o barco para as costas da Sicília, onde encontrou antigos companheiros. Ali
se quedou até a primavera de 1221, dirigindo-se com eles então para Assis
a fim de participarem do Capítulo da Ordem Francescana
- o último que seria feito com a presença do fundador Francisco.
Em Assis
encontrou-se com São Francisco de Assis
e os seus primeiros seguidores, um evento de grande importância em sua
carreira. Sendo designado para um eremitério em Montepaolo, na província da Romagna, ali passou cerca de quinze meses em
intensas meditações e árduas disciplinas.
Pouco
depois aconteceu uma ordenação de frades em Forlì, quando deixou o isolamento e para lá se
dirigiu. Até então os franciscanos não sabiam de sua sólida formação, mas
faltando o pregador para a cerimónia, e não havendo nenhum frade preparado para
tal, o provincial solicitou a António que falasse o que quer que o Espírito Santo o inspirasse. Protestou, mas
obedeceu, e dissertando para os franciscanos e dominicanos lá reunidos de forma fluente e
admirável, para a surpresa de todos, foi de imediato destinado pelo provincial
à evangelização e difusão da doutrina pela Lombardia. Recebendo a aprovação para a tarefa
pastoral do próprio Francisco, fixou-se então em Bolonha, onde se dedicou ao ensino da teologia na universidade e à pregação.
Em 1227
foi indicado provincial da Romagna e passou os três anos seguintes pregando na
região, incluindo Pádua, para audiências cada vez
maiores. Em 1230 solicitou ao papa dispensa de suas funções como provincial
para dedicar-se à pregação, reservando algum tempo para a contemplação e prece
no mosteiro que havia fundado em Pádua. Sempre trabalhando pelos necessitados,
envolveu-se também em questões políticas, a exemplo de sua viagem a Verona para pedir a libertação de prisioneiros feitos pelo
tirano Ezzelino,
e em 1231 persuadiu a municipalidade de Pádua a elaborar uma lei que impedia a
prisão por dívidas se houvesse a possibilidade de compensação de outras formas.
Pouco
depois da Páscoa de 1231 sentiu-se mal, declarou-se hidropisia e ele deixou Pádua para dirigir-se ao
eremitério de Camposanpiero, nos arredores da cidade. Seus companheiros
ergueram-lhe uma cabana no alto de uma árvore, onde permaneceu alguns dias.
Percebendo que a morte estava próxima, pediu para ser levado de volta a Pádua,
mas apenas tendo alcançado o convento das clarissas de Arcella, subúrbio de Pádua, ali faleceu, em 13 de
junho de 1231. As clarissas reclamaram seu corpo, mas a multidão acabou sabendo
de seu passamento, tomou-o e o levou para ser sepultado na Igreja de Nossa
Senhora. Sua fama de santidade era tamanha que foi canonizado logo no ano seguinte, em 30 de maio,
pelo papa Gregório IX. Os seus restos mortais repousam desde 1263 na Basílica de
Santo António de Pádua, construída em sua memória logo após sua
canonização. Quando sua tumba foi aberta para iniciar o processo de translado,
sua língua foi encontrada incorrupta, e São Boaventura, presente no ato, disse que o
milagre era prova de que sua pregação era inspirada por Deus. E incorrupta está
até hoje, em exposição na Capela das Relíquias da Basílica. Foi proclamado Doutor da Igreja pelo papa Pio XII em 16 de janeiro de 1946 e é comemorado
no dia 13 de junho.
Tradição taumatúrgica e iconografia
Diz a
tradição que em sua curta vida operou muitos milagres, como seguem alguns exemplos.
- Certa feita, meditando à beira-mar sobre a frequente aparição da imagem do peixe nas Escrituras, os peixes teriam se reunido a seus pés para escutá-lo.
- Teria restaurado um campo de trigo maduro para colheita que fora estropiado por uma multidão que o seguia; teria protegido milagrosamente seus ouvintes da chuva que caía durante um sermão, e uma mulher impedida pelo marido de ir ouvi-lo pôde escutar suas palavras a quilómetros de distância.
- Quando em disputa com um herege albigense sobre a presença ou não do Deus vivo na hóstia consagrada, o herege, chamado Bonvillo, disse que se uma mula, tendo passado três dias sem comer, honrasse uma hóstia em detrimento de uma ração de aveia, ele acreditaria no santo. Segundo a história, assim que a mula foi liberta de seu cercado, faminta, desviou-se da ração e ajoelhou-se diante da hóstia que António lhe mostrava.
- Restaurou o pé amputado de um jovem.
- Soprou na boca de um noviço para expulsar as tentações que sofria, confirmando-o em sua vocação.
- Quando alguns hereges colocaram veneno em sua comida para verificar sua santidade, o santo fez o sinal da cruz sobre o alimento, comeu-o e nada sofreu, para o vexame dos seus tentadores.
- Outro milagre famoso trata-se da aparição do Menino Jesus ao santo durante uma de suas orações, uma cena multiplicada abundantemente em sua iconografia.
Também é
bastante citado um milagre ocorrido durante sua pregação num consistório diante do papa, inúmeros cardeais e
clérigos, e gentes de várias nações, quando, discorrendo com sutilíssimo
discernimento sobre intrincadas questões teológicas, cada um dos presentes
teria ouvido a pregação na sua própria língua materna. Na ocasião, diante de
tão assombroso fenómeno, que parecia uma reedição do Pentecostes bíblico, o papa o teria chamado de
"a arca do Testamento, o arsenal da Sagrada Escritura"
A sua
representação iconográfica de longe mais frequente é a de um jovem tonsurado
envergando o hábito dos frades franciscanos, segurando o Menino
Jesus sobre um livro ou entre os braços, a quem contempla com
expressão terna, e tendo uma cruz, ou um ramo de açucenas, na outra mão. Esses
atributos podem ser substituídos por um saco de pão, que distribui entre pobres
ou idosos.
Veneração
É
considerado padroeiro dos amputados, dos animais, dos estéreis, dos barqueiros,
dos velhos, das grávidas, dos pescadores, agricultores, viajantes e
marinheiros; dos cavalos e burros; dos pobres e dos oprimidos; é padroeiro de
Portugal, e é invocado para achar-se coisas perdidas, para conceber-se filhos,
para evitar naufrágios, para conseguir casamento.
A devoção
popular o colocou entre os santos mais amados do Cristianismo, cercou-o de
riquíssimo folclore e lhe atribui até os dias de hoje
inúmeros milagres e graças. Igrejas a ele consagradas se multiplicam pelo
mundo, tem vasta iconografia erudita e popular, a bibliografia devocional que
ele inspira é volumosa, e em sua homenagem uma quantidade incontável de pessoas
recebeu o nome António, além de inúmeras cidades, bairros e outros logradouros
públicos, empresas e mesmo produtos comerciais em todo o mundo também terem seu
nome.
Na
tradição lusófona Santo António está acima de todos em prestígio. Sua veneração
foi levada de Portugal para o Brasil, onde enraizou rápido e também dominou o
coração do povo. Era tanta a familiaridade que o santo inspirava, que passou a
ser uma espécie de "propriedade privada" de todos. Como relatou
Grillot de Givry, "não há casa que o não venere no seu oratório e não
satisfeita ainda com isso, a comum devoção dos fiéis, cada um quer ter só para
si o seu Santo António". Estava em toda parte: "nos nichos de pedra,
pintado em azulejos, a guardar as casas, em caixilhos de seda à cabeceira da
cama a vigiar-nos o sono, nos escapulários e bentinhos junto ao peito, a
acautelar-nos os passos, esculpido e pintado para preservar dos perigos,
pintados nas caixas de esmola, nos santuários e oratórios". Também era
invocado pelos senhores para recuperar escravos fugidos.
A mesma
familiaridade criou práticas esdrúxulas no culto popular. Se um pedido não era
atendido, a imagem do santo podia ser submetida a torturas e castigos.
Deitavam-na de barriga para o chão e punham-lhe uma pedra em cima; escondiam-na
num poço escuro, retiravam-lhe o Menino Jesus dos braços, ou arrancavam-lhe o
resplendor. Acreditava-se que o castigo acelerava a concessão da graça, e
explicavam a violência dizendo que em sua juventude o santo desejara morrer
martirizado em nome da fé. Luminares do clero, como o padre Vieira, também de certa forma reforçavam
essas crenças. Num sermão disse:
"Não haveis de pedir a Santo
António como aos outros, nem como quem pede graça e favor, senão como quem pede
justiça. E assim haveis de pedir a Santo António: não só como a quem tem por
ofício deparar tudo o perdido e demandado como a quem deve e está obrigado a o
deparar. E senão dizei-me: por que atais e prendei esse santo, quando parece
que tarde em vos deparar o que lhe pedis? Porque deparar o pedido em Santo António
não só é graça, mas dívida. E assim como prendei a quem vos não paga o que vos
deve, assim o prendeis a ele. Eu não me atrevo nem a aprovar esta violência,
nem a condená-la de todo, pelo que tem de piedade"
É um dos
santos honrados nas popularíssimas Festas Juninas e diversos costumes folclóricos
estão ligados ao santo. a título de exemplo, no Brasil moças casadoiras retiram
o Menino Jesus das estátuas e só o devolvem quando arrumam casamento; uma prece
especial, os "responsos", são feitas para que ele ajude a encontrar
objetos perdidos; no dia de sua festa muitas igrejas distribuem um pão
especialmente abençoado, os "pãezinhos de Santo António", que deve ser
guardado em uma lata de mantimentos para que não falte alimento na casa.