Dom Oscar Romero, o mártir dos pobres.
Recebi
hoje uma maravilhosa notícia que quero partilhar com todos os amigos xaverianos
do mundo inteiro. O papa Francisco quer que a causa de beatificação de Dom
Oscar Romero seja novamente aberta, depois de 33 anos, e seja rapidamente
concluída. É uma escolha que já estava espalhada na consciência popular da
América Latina, da Europa e do mundo inteiro.
É
motivo de alegria que esta decisão venha da um papa de nome Francisco, que com
seus gestos significativos e com as suas palavras, ungidas com o óleo do Espírito
Santo, comove e surpreende o mundo afora.
Dom
Romero deu a vida pelo povo, sem recuo, com firmeza, como Cristo Jesus na Cruz.
Ele disse: “se me matarem, eu ressuscitarei no meu povo salvadorenho. Um bispo
morrerá, mas a Igreja, que é o povo de Deus, não morrerá nunca”.
Estas são as últimas palavras de Dom Romero
antes de ser assassinado enquanto celebrava a Eucaristia na capela do hospital
de São Salvador, no dia 24 de março de 1980.
Papa
Francisco, outro dia, escreveu uma carta aos Bispos da Argentina, reunidos em
Assembleia, uma carta corajosa, que dizia:
Dom
Oscar Romero saiu na rua ao encontro do seu povo sofrido e assassinado e ganhou
o martírio, como Jesus na Cruz.
Também
João Paulo II teve o milagre reconhecido pelo papa Francisco e dentro de pouco
tempo será proclamado santo.
·
João Paulo II,
ora por nós.
·
Dom Oscar Romero,
ora por nós.
Belém 25 de Abril de 2013, festa de São
Marcos Evangelista.
Pe. Marcello Zurlo
Diretor espiritual dos Amigos Xaverianos
- GAMIX
Vou
anexar diversos artigos para quem deseja conhecer mais profundamente Dom Oscar
Romero, o bispo dos pobres. Não precisa ler tudo de uma vez, podemos meditar em
nossos encontros artigo por artigo.
1 - O Bispo dos pobres
2 – Dom Romero escrito por Costanzo
Donegana
3 – 25 anos de morte e profecia (Marcelo
Barros)
4 – Dom Casaldáliga celebra a memória
dos mártires da América Latina
5 – Carta ao irmão Romero (Dom Pedro
Casaldaliga)
6 – Celebrando os 25 anos de Dom Oscar
Romero (Liturgia de Dom Pedro Casaldalica que podemos repetir nas nossas
comunidades)
7 - Frases de Dom Oscar Romero
Um grupo de bispos
latino-americanos, no dia 29 de março de 1980, às vésperas dos funerais de dom
Romero, assinou um documento que dizia: “Três coisas admiramos e agradecemos no
episcopado de dom Oscar A. Romero: foi, em primeiro lugar, anunciador da fé e
mestre da verdade [...]. Foi, em segundo lugar, um resoluto defensor da justiça
[...]. Em terceiro lugar, foi o amigo, o irmão, o defensor dos pobres e
oprimidos, dos camponeses, dos operários, dos que vivem nos bairros
marginalizados”.
Campesina |
Dom Romero foi um bispo exemplar, porque foi um
bispo dos pobres em um continente que carrega tão cruelmente a marca da pobreza
das grandes maiorias, enxertou-se entre eles, defendeu sua causa e sofreu a
mesma sorte deles: a perseguição e o martírio. Dom Romero é o símbolo de toda
uma Igreja e de um continente latino-americanos, verdadeiro servo sofredor de
Yahwé, que carrega o pecado, a injustiça e a morte de nosso continente. Embora,
às vezes, o pressentíamos, seu assassinato não nos surpreendeu; seu destino não
podia ser outro, pois ele foi fiel a Jesus e se inseriu de verdade na dor de
nossos povos.
Porém, sabemos que a morte de dom Romero não foi um
fato isolado. Fez parte do testemunho de uma Igreja que, tanto em Medellín,
como em Puebla, optou, a partir do Evangelho, pelos pobres e oprimidos. Por
isso, agora compreendemos melhor, desde seu martírio, a morte por fome e
doença, realidades permanentes em nossos povos; assim como os incontáveis
martírios, as incontáveis cruzes que pontuam nosso continente nestes anos:
camponeses, moradores das periferias, operários, estudantes, sacerdotes,
agentes de pastoral, religiosas, bispos encarcerados, torturados, assassinados
por crerem em Jesus Cristo e amarem os pobres.
São, como a morte de Jesus, fruto da injustiça dos
homens e, ao mesmo tempo, semente da ressurreição [...]. Dom Oscar A. “Romero é
um mártir da libertação que o Evangelho exige um exemplo vivo do pastor que
Puebla queria”. Dom Romero, que assistiu em 1979 à Conferência Geral dos Bispos
Latino-americanos em Puebla, identificou-se plenamente com o apelo dos bispos à
“conversão de toda a Igreja para uma opção preferencial pelos pobres, no
intuito de sua integral libertação” (Puebla 1134). Assim, ele leu, com toda
clareza, num país esgarrado pela violência, “a testemunha subversiva das
Bem-aventuranças que revolveram tudo” e entendeu que tinha de desarraigar a
violência a partir de suas bases, a violência estrutural, a injustiça social.
E, por isso, é dever da Igreja “conhecer os mecanismos da pobreza”.
Dom Oscar Romero cumprimentando os paroquianos |
A opção preferencial pelos pobres é um convite para
a Igreja como um todo e para cada seguidor de Cristo. “O cristão, se não viver
este compromisso de solidariedade com o pobre, não é digno de chamar-se cristão”,
ele dizia. E continuava: “Por isso, os pobres marcaram o verdadeiro caminho da
Igreja. Uma Igreja que não se une aos pobres para denunciar, a partir deles, as
injustiças que se cometem contra eles, não é a verdadeira Igreja de Jesus
Cristo” (Homilia, 23 de setembro de 1979). Nisso, ele reconheceu sua missão
como arcebispo: “Creio que fazer esta denúncia, na minha condição de pastor do
povo que sofre a injustiça, seja meu dever.
“Isto me impõe o Evangelho, pelo qual estou
disposto a enfrentar o processo e a prisão” (Homilia, 14 de maio de 1978). Com
muita clareza, na homilia de 8 de julho de 1979, afirmou: “Se nos cortarem a
rádio, se nos fecharem o jornal, se não nos deixarem falar, se matarem todos os
sacerdotes e até o arcebispo, e ficar um povo sem sacerdotes, cada um de vocês
deve converter-se em microfone de Deus, cada um de vocês deve ser um
mensageiro, um profeta”. Durante um retiro de quatro dias com um grupo de
sacerdotes do Vicariato de Chalatenango, ele anotou estas linhas, nas quais
relata a resposta de seu confessor, o pe.Azcue: “Outro meu temor é a propósito
dos riscos de minha vida. Custa-me aceitar uma morte violenta, que nestas
circunstâncias é absolutamente possível.
O padre me deu ânimo, dizendo-me
que minha disposição deve ser a de dar minha vida por Deus, qualquer que seja
meu fim. As circunstâncias desconhecidas devo vivê-las com a graça de Deus, que
assistiu os mártires e, se for necessário, senti-la-ei vizinha a mim quando der
o último respiro. “Porém, mais importante que o momento de morrer, é oferecer a
Deus toda a minha vida, viver por Ele”. Duas semanas antes de sua morte, numa
entrevista ao diário Excelsior, do México, disse: “Fui frequentemente ameaçado
de morte. Devo dizer-lhe que, como cristão, não creio na morte sem ressurreição:
se me matarem, ressuscitarei no povo salvadorenho.
Digo isso sem nenhuma ostentação, com a maior
humildade. Como pastor, sou obrigado, por mandado divino, a dar a vida por
aqueles que amo, que são todos os salvadorenhos, até por aqueles que me assassinarem.
Se chegarem a cumprir-se as ameaças, desde agora ofereço a Deus meu sangue pela
redenção e ressurreição de El Salvador. O martírio é uma graça de Deus, que não
me sinto na situação de merecer, porém, se Deus aceitar o sacrifício de minha
vida, que meu sangue seja semente de liberdade e sinal de que a esperança se
transformará logo em realidade.
O povo salvadorenho acolhe João Paulo II em 1983, lembrando Dom Romero. |
Minha morte se for aceita por Deus, que seja pela
libertação do meu povo e como testemunho de esperança no futuro. “Você pode
escrever: se chegarem a me matar, desde já eu perdoo e abençoo aquele que o
fizer”. Não resta dúvida sobre o caráter martirial da morte de dom Romero.
Iniciou-se, na América Latina, a época em que os cristãos, morrendo pela fé,
dão sua vida pela justiça.
2 -
Dom
Romero - Vida por Costanzo
Donegana
Os últimos dois anos de sua vida,
dom Romero fazia um diário. Todas as noites, registrava em um gravador os
principais fatos do dia. Lembrava-se deles e os comentava. O registro
transformou-se em uma fonte única, necessária sobretudo para conhecer o lado
mais profundo e íntimo de sua personalidade, que surge diferente da imagem
pintada pelas alas políticas e eclesiais, tanto da direita como da esquerda.
Instrumento de Deus
“Rezo ao Espírito Santo, para que me faça caminhar
nas estradas da verdade e me mantenha sempre guiado unicamente por Nosso
Senhor; jamais pelos elogios, nem pelo temor de ofender” (13/03/80). Tais
palavras, pronunciadas dez dias antes da sua morte, resumem o seu projeto de
vida. Respondendo a alguns jornalistas, que elogiavam uma homilia feita por ele
na catedral, afirma: “Eu sei apenas que a graça do Espírito Santo guia sua
Igreja e torna fecunda sua palavra. A isso eu credito o sucesso que vocês
atribuem à minha homilia.
Todo o meu trabalho pastoral é feito com esse
espírito. Confio no Espírito Santo e procuro ser seu instrumento, amando e
servindo sinceramente o povo, a partir do Evangelho” (27/11/79). Esse amor
coloca-o literalmente no meio do povo: “Das pessoas que vieram às audiências de
hoje, a maioria era muito pobre. Muitas dessas pessoas estavam angustiadas por
causa da situação de injustiça. Algumas eram mães de desaparecidos. Procurei
lhes dizer palavras de conforto, ou dar-lhes orientações que as ajudassem a
enfrentar as dificuldades” (19/09/79).
Amigo do povo
O povo retribui com carinho e fé o amor do
arcebispo. Logo depois de voltar da Conferência de Puebla, dom Romero reza uma
missa na catedral. “O povo interrompeu várias vezes minha homilia com
carinhosos aplausos. Terminada a missa, cumprimentei os sacerdotes presentes e
saí, acompanhado pelas aclamações do povo, para saudar os que tinham ficado do
lado de fora da Igreja. Foi um momento carinhoso. (...) Tive a sensação de estar
numa família” (16/02/79).
Homem da unidade
Dom Oscar Romero arriscou tudo pela unidade. Depois
do encontro em uma paróquia da diocese, comentou: “Convidamos todos a
compreender qual é a verdadeira missão e o verdadeiro papel da Igreja. A partir
dessa verdade, discutimos sobre a divisão que existe entre os fiéis da
paróquia. Houve intervenções muito diretas de setores tradicionais, como de
setores mais avançados, que trabalham na pastoral da maneira como a
arquidiocese deseja. Todas as contribuições foram úteis. Recomendei várias
vezes a unidade, o sentido transcendental do trabalho eclesial e o estudo
atento sobre o que é a Igreja, para embasar o trabalho pastoral, tendo em vista
a construção da verdadeira Igreja de Jesus Cristo” (23/04/79).
Este amor pela unidade da Igreja e do povo é o
principal motivo do seu sofrimento, principalmente quando ele é incompreendido
e acusado de ser fonte de divisão. Este sentimento é percebido inclusive entre
os bispos. Na Conferência Episcopal de E1 Salvador, dom Romero se encontra
sempre em minoria, apoiado apenas por dom Arturo Rivera y Damas (que o
sucederá). Ele enfrenta a situação com fé, espírito de comunhão e firmeza:
“Também dom Rivera me fez a grata surpresa de vir encontrar-me. Conversamos
sobre o documento secreto de denúncia contra mim, assinado por quatro bispos.
O documento me acusa, perante a Santa Sé, de
atitudes contrárias à fé, de politização, de fazer pastoral com bases
teológicas falsas e de um conjunto de outros argumentos que põem em cheque meu
ministério episcopal. Apesar da gravidade do fato, senti uma grande paz.
Reconheço, diante de Deus, minhas deficiências, mas acredito que trabalhei com
boa vontade e muito distante das coisas graves, das quais me acusam. Deus dirá
a última palavra, que aguardo com tranquilidade, mantendo o trabalho com o
entusiasmo de sempre. Sirvo com amor a Santa Igreja” (18/05/79).
“A reunião dos bispos na Nunciatura confirmou a
divisão que existe entre nós. Só houve acordo em relação à necessidade de fazer
uma denúncia oficial pelo assassinato do padre Macias (...). Quando se tratou
de analisar as causas do crime, a reunião se deixou arrastar pela suspeita de
uma infiltração marxista na Igreja. Não obstante todos os meus esforços, não
foi possível afastar esses preconceitos. Esforcei-me para explicar que a
perseguição, infligida aos sacerdotes, deve-se ao fato de eles buscarem
permanecer fiéis ao espírito do Concílio Vaticano II. (...) Ofereci a Deus essa
prova da paciência, já que a culpa do mal que acontece ao país foi imputada, em
grande parte, à minha pessoa” (11/08/79).
Filho da Igreja
Há um momento em que dom Romero percebe que o
próprio papa tem reservas em relação à sua ação pastoral. Depois de uma
audiência com João Paulo II, comenta: “Acho que foi um colóquio muito útil,
porque muito franco. Bem sei que não se deve sempre esperar uma aprovação
plena, pois é mais útil receber advertências que podem melhorar nosso trabalho”
(07/05/79). Naquele mesmo período escreve: “Entreguei tudo nas mãos de Deus,
dizendo-lhe que procurei fazer toda a minha parte e que, apesar de tudo, amo a
Santa Igreja e, com a sua ajuda, serei sempre fiel à Santa Sé, ao magistério do
Papa.
Todavia compreendo a parte humana, limitada,
defeituosa da Igreja – que é o instrumento de salvação da humanidade – à qual
quero servir sem reserva alguma” (04/05/79). Um mês antes de morrer,
encontra-se novamente com João Paulo II: “Senti que o Papa está de acordo com
tudo o que eu digo. No final, ele me abraçou muito fraternalmente e disse-me
que rezava todos os dias por El Salvador. “Naquele momento, tive a sensação de
que o próprio Deus confirmava e dava forças ao meu pobre ministério”
(30/01/80).
Diálogo com todos
Dom Romero não fecha nenhuma oportunidade de
diálogo com as partes em conflito. Depois de uma reunião com seus assessores,
afirma: “Entendi que, tanto a Junta de governo, como as organizações populares
que lutam contra ela, têm aspectos positivos e negativos. A posição da Igreja é
evidenciar e apoiar o que possa ser positivo. (...) A Igreja, por amor à pátria
e pelo bem da justiça, deve também denunciar todos os obstáculos a esse
processo revolucionário que parece já se ter iniciado” (29/10/79). “Hoje de
manhã, recebi o secretário-geral da União Democrática Nacional, um partido
marxista. Ele elogiou o trabalho da Igreja.
Disse que esse trabalho é muito diferente do que
havia em outras épocas, quando seu marxismo chamava a Igreja de ‘ópio do povo’.
Agora, pelo contrário, é o melhor ‘despertador’ do povo, pois grande parte do
que está acontecendo em favor da transformação do país é obra da Igreja”
(29/11/79). “Jantei com o coronel Majano e com o doutor Morales Erlich, membros
do governo. Falamos sobretudo da reforma agrária. Eles têm grande esperança.
Mas aproveitei também para apontar os perigos e as dúvidas que suscitam as
minhas críticas (...): antes de mais nada, a conjunção da reforma agrária, com
essa onda de evidente repressão violenta, nascida nos órgãos de segurança.
Também perguntei por que eles não garantem apoio
popular mais decidido, favorecendo o diálogo com as forças populares, com o
desejo de descobrir os verdadeiros interesses do povo e de acolher as
reivindicações em favor da justiça. Não é o caso, certamente, da extrema
direita, que não trabalha em favor dessas reivindicações, mas para manter seus
privilégios”. (14/03/80). Dom Romero nunca permitiu que se confundisse sua ação
com a dos grupos políticos. Em inúmeros pontos do seu diário ele afirma
claramente essa distinção:
“À noite, os representantes do FAPU, uma
organização popular, vieram para expressar seu desejo de ajudar a Igreja. Eu os
adverti com a maior clareza: ‘Sem o perigo de querer manipulá-la’. Eles
concordaram. (...) Insisti muito nessa autonomia da Igreja e no fato de que
ela, a partir de sua perspectiva evangélica, apoia todas as iniciativas, cuja
finalidade seja a de construir a justiça, o bem-estar, a paz dos homens”.
(12/06/78).
O sangue
Dom Romero inspira-se somente no Evangelho. Nele,
encontra a força e a luz de sua luta e de suas propostas. A um grupo de
jornalistas que o interrogam sobre uma solução pacífica para a violência no
país, responde com simplicidade evangélica: “Eu digo sempre que a melhor
solução pacífica é um retorno ao amor e um verdadeiro desejo de busca de um
diálogo. Isso deve basear-se em um clima de confiança – que tem de ser
demonstrado com os fatos – para que o povo possa expressar as próprias opiniões
em total liberdade e todos sejam admitidos ao diálogo”.
O arcebispo é morto enquanto celebra a Missa.
Indefeso, porque sempre recusara as ofertas de proteção do governo. “Quero
correr os mesmos perigos que o meu povo corre”, costumava repetir. Poucos
minutos antes do crime, disse na homilia: “Neste cálice o vinho se torna
sangue, que foi o preço da salvação. Possa este sacrifício de Cristo nos dar a
coragem de oferecer nosso corpo e nosso sangue pela justiça e pela paz do
povo”.
Trajetória
• 1917
– Nasce
Oscar Arnulfo Romero, de uma família modesta em Ciudad Barrios (El Salvador).
• 1931– Entra em seminário. Seis anos depois, interrompe os estudos para ajudar a família, em dificuldades, trabalhando por alguns meses nas minas de ouro com os irmãos. De volta ao seminário, é enviado a Roma para estudar teologia.
• 1942 – É ordenado sacerdote; volta a El Salvador e é destinado a uma paróquia do interior, da qual é transferido, em seguida, para a paróquia da catedral de São Miguel, onde realiza um grande trabalho pastoral por 20 anos. Caracteriza-se como sacerdote dedicado à oração e à atividade pastoral, pobre, dando impulso a obras de caridade, mas sem compromisso social evidente.
• 1966 – Eleito secretário da Confer. Episcopal de El Salvador.
• 1931– Entra em seminário. Seis anos depois, interrompe os estudos para ajudar a família, em dificuldades, trabalhando por alguns meses nas minas de ouro com os irmãos. De volta ao seminário, é enviado a Roma para estudar teologia.
• 1942 – É ordenado sacerdote; volta a El Salvador e é destinado a uma paróquia do interior, da qual é transferido, em seguida, para a paróquia da catedral de São Miguel, onde realiza um grande trabalho pastoral por 20 anos. Caracteriza-se como sacerdote dedicado à oração e à atividade pastoral, pobre, dando impulso a obras de caridade, mas sem compromisso social evidente.
• 1966 – Eleito secretário da Confer. Episcopal de El Salvador.
Consagração episcopal - 1970 |
• 1970 – É nomeado bispo auxiliar de São Salvador, cujo bispo, dom Luis Chávez y Gonzalez, está decididamente atualizando a linha pastoral proposta pelo Concílio Vaticano II e a Conferência de Medellín, auxiliado eficazmente por dom Arturo Rivera y Damas, também bispo auxiliar. Romero não se identifica com algumas linhas pastorais da arquidiocese e deixa transparecer sua tendência conservadora.
• 1974 – É nomeado bispo da diocese de Santiago de Maria. O contexto político se caracteriza por uma forte repressão, sobretudo contra as organizações camponesas.
• 1975 – Quando a Guardia Nacional assassina cinco camponeses, Romero celebra uma Missa para as vítimas; não denuncia publicamente o crime, mas escreve uma carta dura ao presidente Molina.
RutílioGrande |
• 1977 – É nomeado arcebispo de El
Salvador. Ficam surpreendidos os setores renovadores, que esperavam a nomeação
de dom Rivera y Damas. Em 12 de março é assassinado o jesuíta pe. Rutílio
Grande, comprometido com o povo e amigo de Romero. É o momento da “conversão”
de Romero, quando se coloca corajosamente do lado dos oprimidos, denunciando a
repressão e a violência estrutural, numa aliança entre os setores
político-militares e econômicos, apoiada pelos Estados Unidos, e que explora o
povo. Romero não fica calado também diante das violências da guerrilha
revolucionária. O momento mais forte da sua ação, em defesa dos direitos
humanos, são as homilias dominicais, nas quais analisa a realidade da semana à
luz do evangelho. Transmitidas pela rádio católica, são ouvidas em todo canto
do país, dando esperança ao povo e suscitando o ódio dos poderosos.
• 1978 e 1979 – Recebe o doutorado Honoris Causa pelas Universidades de Georgetown (EUA) e de Louvain (Bélgica). Em outubro de 1979, um golpe de estado depõe o ditador Humberto Romero e o poder é assumido por uma Junta de Governo, composta por civis e militares. Mas o exército e as organizações paramilitares assassinam centenas de civis (entre eles vários sacerdotes) e a guerrilha responde com execuções sumárias e destruição das estruturas do país.
• 1978 e 1979 – Recebe o doutorado Honoris Causa pelas Universidades de Georgetown (EUA) e de Louvain (Bélgica). Em outubro de 1979, um golpe de estado depõe o ditador Humberto Romero e o poder é assumido por uma Junta de Governo, composta por civis e militares. Mas o exército e as organizações paramilitares assassinam centenas de civis (entre eles vários sacerdotes) e a guerrilha responde com execuções sumárias e destruição das estruturas do país.
• 1980 – Dom Romero escreve ao presidente
dos EUA, Carter (17 de fevereiro), pedindo que não envie ajuda militar e
econômica ao governo salvadorenho, pois ela favorece a repressão do povo. Na
homilia de 23 de março, ele se dirige explicitamente aos homens do exército, da
Guardia Nacional e da Polícia:
5.º aniversário de morte - o povo salvadorenho não esquece seu líder |
“Frente à ordem de matar seus irmãos deve
prevalecer a Lei de Deus, que afirma: NÃO MATARÁS! Ninguém deve obedecer a uma
lei imoral (...). Em favor deste povo sofrido, cujos gritos sobem ao céu de
maneira sempre mais numerosa, suplico-lhes, peço-lhes, ordeno-lhes em nome de
Deus: cesse a repressão!”. Serão as últimas palavras do bispo ao país. No dia
seguinte, ele é assassinado por um franco-atirador, enquanto reza a missa na
capela do Hospital da Divina Providência. O mandante do crime, major Roberto
D’Aubuisson, é reconhecido como responsável, mas nunca foi processado.
1994 – Abre-se o processo de canonização
de dom Romero em San Salvador.
1997 – O processo passa para a
Congregação das Causas dos Santos em Roma.
2013 – Papa Francisco reabre o processo e quer uma
conclusão rápida
3 - Oscar Romero,
25 anos de morte e profecia
Marcelo Barros |
Pessoas
do mundo inteiro devem visitar El Salvador por ocasião do 25º aniversário do
martírio de dom Oscar Romero, arcebispo salvadorenho assassinado em 24 de
março de 1980, enquanto celebrava uma missa no Hospital da Divina
Providência, onde residia. E encontrarão um país, em alguns aspectos,
semelhante e, em outros, diferente de 1980.
A primeira coisa que qualquer pessoa de fora observará é que a pobreza do povo não só continua, mas se agravou. Todos os índices sociais revelam que a concentração de renda em El Salvador e em toda América Latina é ainda mais injusta e escandalosa do que no tempo em que Romero pregava do púlpito: Aquele El Salvador a que Romero se dirigia se espalhou por todo o continente. Hoje, a violência urbana, a corrupção política e a injustiça institucionalizada estão presentes em todos os países. A violência que matou tanta gente em El Salvador continua assassinando pobres e indefesos. Agora, não se trata mais de repressão militar contra a tentativa de revolução socialista como era a Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional (FMLN) e os diversos grupos de linha revolucionária. A violência é atomizada e se expressa em um clima de confronto que opõe, de um lado, ricos que contratam seguranças particulares e, de outro, marginais que os tentam roubar. Multiplicam-se grupos parapoliciais que assassinam adolescentes e crianças de rua, como aumenta a violência generalizada que, a cada dia, ronda o povo. Há uma tirania mais eficiente e difícil de derrubar, que vem do dogma neoliberal que considera os pobres supérfluos. Desde os anos 60, a América Central, especialmente Nicarágua, El Salvador e Guatemala viviam uma verdadeira guerra civil com milhares de pessoas assassinadas pelas ditaduras militares que os Estados Unidos impunham a toda região. Em meio a essa situação, monsenhor Romero compreendeu o seu ministério de bispo não como doutrinador religioso ou administrador eclesiástico, e sim como alguém que, em nome de Deus, procura promover entre os salvadorenhos o entendimento e o diálogo. Mas esse acordo só poderia ter como base a justiça e a verdade. NÃO-VIOLÊNCIA/ATIVA O compromisso com a paz não é passividade nem neutralidade diante da injustiça. Romero não hesitou em denunciar os abusos do poder e as injustiças praticadas pelos militares. Por isso, os poderosos passaram a vê-lo como ameaça. Mataram alguns de seus auxiliares para amedrontá-lo. Nos três anos em que foi arcebispo, seis padres da arquidiocese foram assassinados, além de muitos catequistas, leigos e agentes de pastoral. Antes de assassiná-lo fisicamente, os adversários tentaram, por todos os meios, desacreditar e desmoralizar sua atuação. Frequentemente, circulavam folhetos acusando o arcebispo de "comunista infiltrado na Igreja" ou de "vendido aos grupos subversivos". No mesmo dia em que ele foi assassinado, uma folha circulava chamando-o de "psicopata e mentiroso", por acusar o glorioso exército nacional de assassinar a sangue frio dezenas de lavradores indefesos na fazenda Colima. O que caracteriza monsenhor Romero é que ele foi assassinado aos poucos. Era tão evidente que, atuando como atuava, ia ser assassinado que, as pessoas mais "ajuizadas" da Igreja e do mundo evitavam andar em sua companhia para não morrer junto. O próprio monsenhor, desde que começou a receber ameaças de morte, nunca mais aceitou viajar de carro com outras pessoas. Não aceitava carona e não tinha motorista para não pôr em risco a vida de ninguém. Ao menos por duas vezes, as tentativas de assassinato falharam. Finalmente, em 24 de março de 1980, as irmãs do hospital e as pessoas presentes na missa o viram cair aos pés do altar, misturando seu sangue com o cálice de vinho que preparava para o ofertório. Tudo foi muito rápido. Parece que os assassinos estavam em dois grupos e a bala que o atingiu veio da janela lateral. Era um projétil blindado e explosivo, calibre 25. Passou perto do coração e fixou-se na quinta costela dorsal, a nove centímetros da clavícula. A morte se deu por hemorragia interna, provocada pela ferida da bala que ao penetrar no corpo explodiu e se dividiu em milhares de fragmentos mortais. Eram exatamente 18 horas e 25 minutos. Romero tinha 62-anos. Marcelo Barros é monge beneditino e autor de 26 livros, dos quais o mais recente é O Espírito vem pelas Águas |
4 - Dom Pedro Casaldáliga celebra a memória dos
mártires
Ribeirão
Cascalheira, MT - No último fim de semana, em Ribeirão Cascalheira (MT), a 2500
quilômetros de Itaici (SP) - onde os bispos do Brasil renovam seus estatutos
para atender a uma demanda do Vaticano - Dom Pedro Casaldáliga reuniu
militantes, católicos e fiéis de outras igrejas e religiões, de todo o Brasil e
do mundo, e celebrou a memória dos mártires da América Latina. Memória de
homens, mulheres e crianças de diferentes raças, assassinados por lutarem por
um mundo mais justo, fraterno, pelos direitos dos índios, dos negros, das
minorias, dos trabalhadores, pela ecologia, contra a violência e a tortura,
pelos direitos humanos em geral, pela reforma agrária e pela paz.
A Romaria dos Mártires da
Caminhada da América Latina lembrou também os 25 anos da morte do Padre João
Bosco Penido Burnier. Esse jesuíta era missionário entre os índios Baikiri e os
posseiros pobres, na Diocese de São Félix do Araguaia. No dia 11 de outubro de
1976, ele e Dom Pedro rezavam a novena de Nossa Senhora Aparecida, no povoado
de Ribeirão Bonito. Informados de que duas sertanejas, Margarida e Santana,
estavam sendo torturadas na cadeia da delegacia local, eles foram interceder
pelas mulheres. Quatro policiais militares os interpelaram, o Padre foi agredido
e recebeu uma bala a queima-roupa no crânio.
Após a missa de sétimo dia, a
população resolveu sair, em procissão, até a porta da delegacia. Ao chegar lá,
libertaram os presos e destruíram o prédio. No seu lugar, fincaram uma cruz.
“Era a cruz da libertação no lugar da cadeia do cativeiro”, relembrou Dom
Pedro, na noite do domingo passado, pouco antes de sair para a caminhada e a
Vigília em memória dos mártires.
Este foi o último ano em que Dom
Pedro, uma das mais fortes lideranças da Teologia da Libertação no mundo,
esteve à frente dessa romaria, que se repete a cada cinco anos. Em 2003, Dom
Pedro completa 75 anos e, como todos os bispos da Igreja Católica (a exceção do
Bispo de Roma), deverá se afastar do cargo. Autor de mais de 50 livros em
português, espanhol e catalão, traduzidos em diversos idiomas, além de roteiros
de filmes, vídeos, CDs e músicas, Dom Pedro recebeu vários prêmios
internacionais por sua vida de militância. A sua “Missa dos Quilombos” tem
música de Milton Nascimento.
O
Santuário dos Mártires da Caminhada
Após 33 anos como bispo de São
Félix, região pobre e violenta, Dom Pedro Casaldáliga deixará muitas histórias
de luta pelo direito dos índios, dos posseiros, dos torturados. E também, uma
modesta e bela construção às margens da rodovia 158, no local onde antes estava
a cadeia: o Santuário dos Mártires da Caminhada, principal atração da pequena
cidade Ribeirão Cascalheira, com seus 15 mil habitantes.
Construído com ajuda
internacional, principalmente da Espanha, seu país de origem, o Santuário tem
16 galerias de fotos e gravuras de mártires do Brasil e da maioria dos países
da América Latina: Santo Dias, metalúrgico militante da Pastoral Operária,
assassinado quando fazia piquete de greve em São Paulo, em 1979. A Prefeita
Dorcelina Folador, eleita com 80% dos votos de Mundo Novo (MS), deficiente
(pela poliomielite), porém conhecida por “eficientíssima”, foi assassinada aos
36 anos, em 1999.
O padre salesiano e indigenista
Rodolfo Lunkenbein e o índio Simão Bororo, assassinados por um bando armado que
invadiu a aldeia Meruri (MT), em 1976. O internacionalmente reconhecido Chico
Mendes. Vladimir Herzog, jornalista e nomeado “Mártir da Verdade”. Zumbi dos
Palmares, o Patriarca do Povo Negro, ao lado de Sepé Tiaraju, o Patriarca da
Causa Indígena, martirizado junto a mais 1500 Guarani, em 1756, nas Missões do
Rio Grande do Sul. Anastácia, a Matriarca da Causa Negra, presa a ferros até a
morte, no século XVIII, por sua resistência contra os maus tratos às mulheres
negras.
Dos demais países da América
Latina, são homenageados, entre outros, o bispo Dom Oscar Romero, assassinado
no altar onde acabara de celebrar a Eucaristia, em 1980, em El Salvador. Os 45
índios de Chiapas, México, na maioria mulheres e crianças, que rezavam e
jejuavam pela paz e foram massacrados, em 22 de dezembro de 1997.
Atrás da mesa do altar, um grande
e belo painel de Cerezo Barredo mostra o Cristo Libertador caminhando à frente
de legião de mártires. Esse artista plástico espanhol tem murais gigantes
espalhados por todo o mundo. Suas interpretações da Palavra de Deus são sempre
engajadas nas realidades locais, com objetivos didáticos e de reconhecimento da
luta dos oprimidos. Do lado oposto ao altar, no alto, a frase do Evangelho de
João (15, 13): “Não há amor maior do que aquele que dá a sua vida por seus
irmãos”.
Vidas pela vida
A grande maioria dos 3000
romeiros que lotaram Ribeirão, religiosos ou não, são militantes das
organizações populares. Representavam as CEBs -Comunidades Eclesiais de Base, o
CIMI - Conselho Indigenista Missionário, o CEBI - Centro Ecumênico de Estudos
Bíblicos, as pastorais da terra, operária, dos migrantes, da juventude, o MST e
o Movimento Fé e Política. Modestos, chegaram em ônibus fretados, pelas
péssimas estradas de pó e buracos do Brasil central, atravessando perigosamente
pinguelas sobre rios e ribanceiras. As viagens duraram, para muitos, mais de 30
horas. De São Paulo, cinco ônibus da região do ABC, trouxeram uma maioria de
jovens.
Os que vieram da Itália, Espanha,
Áustria, Alemanha, Argentina, México, Guatemala, Colômbia, Paraguai também
enfrentaram os ônibus no Brasil. Um dos grupos de espanhóis era formado de 32
católicos de comunidades de base, do Movimento Oscar Romero (bispo assassinado
em El Salvador em 1980) e do Movimento “Somos Igreja”.
Na Europa, as igrejas cristãs
envelhecem e os jovens, com diferentes aspirações espirituais, não se sentem
atraídos a pertencer à pesada estrutura clerical. O movimento ecumênico cresce,
porém com muitos dilemas. Diante da saúde enfraquecida do Papa João Paulo,
muitos católicos estão pedindo um novo Concílio.
Movimentos desejam mudanças
radicais, como o reconhecimento dos padres casados, o sacerdócio feminino e a
eleição direta dos bispos. Um dos espanhóis presentes à Romaria, Alberto
Dávila, de uma comunidade de base de Madrid, disse que o seu grupo elegeu Dom
Pedro Casaldáliga como seu bispo. “Tenho muito mais afinidades religiosas,
espirituais, sociais com Dom Pedro do que com o nosso Bispo de Madrid, muito
vaticanista”, justificou-se, enquanto comia uma coxinha com as mãos, em prato
descartável, sob o sol quente do meio-dia.
Os europeus estavam felizes com
tudo o que viram e ouviram, apesar de toda falta de conforto. Eles vislumbram
nas organizações religiosas populares da América Latina o futuro possível para
a realização da missão profética da Igreja: a construção do Reino ( de Paz,
fraternidade e justiça). O que justifica o slogan da Romaria 2001: “Vidas pelo
Reino”.
Mais de 50 sacerdotes de
diferentes congregações e dioceses só se distinguiram dos demais romeiros no
momento da celebração litúrgica. No galpão, atrás do Santuário, eles vestiram
os paramentos vermelhos – a cor do martírio muito antes de ser a cor dos
partidos revolucionários.
Ponto alto da Romaria, a
Celebração Eucarística do domingo durou três horas de muitos cantos e vibração
apesar do sol forte. Estandartes com fotos dos mártires, faixas das caravanas,
fitas e lenços balançavam sobre as cabeças.
Nas orações dos fiéis foram
incluídos os que morreram nos grandes massacres (Carandiru, Candelária,
Carajás), os que continuam vivos na luta ou no sofrimento da exclusão, e também
os assassinos e torturadores. O poeta Pedro Tierra recitou poema feito por ele
quando, no Carandiru com mais outros 40 presos políticos, recebeu a notícia da
morte do Padre Penido Burnier e entregou a Dom Pedro uma margarida prateada,
com o caule de arame farpado, artesanato feito pela irmã de Alexandre
Vannucchi, universitário de 22 anos, torturado até a morte, em 1973. Tierra
lembrou um verso do bispo que dizia: “Malditas as cercas de arame farpado”.
A benção final foi dada pela mãe
do Padre Josimo, assassinado na sede da Comissão Pastoral da Terra, no Bico do
Papagaio, em 1986. Na despedida, Dom Pedro reforçou a idéia sempre lembrada: a
memória do passado representa um compromisso no presente. E depois de perguntar
aos fiéis por três vezes: “Vocês acreditam nos pobres?”, Dom Pedro pediu então
que assumissem três compromissos:
· 1. Manter viva, atualizada
e subversiva a memória dos mártires;
· 2. Participar das
comunidades de base e dos movimentos populares;
· 3. Voltar às suas
comunidades, lares e países contagiando a todos com esses compromissos
assumidos.
Arcelina Helena, monja beneditina, em
Goiás Velho
5 - Carta aberta ao
irmão Romero
Dom
Pedro Casaldáliga
Eu deveria estar aí... e estou de alma inteira. Esta pequena Igreja de São Félix do Araguaia te tem muito presente, irmão. Estás visível em meu quarto, na capela do pátio, em nossa catedral, em muitas comunidades, no Santuário dos Mártires da Caminhada Latino-americana. Até quando cai uma manga sobre o telhado me recordo do sobressalto que sentias quando caiam as mangas sobre teu retiro do Hospitalito.
No
mês de março de 1983 eu escrevia em meu diário: “Não consigo entender de nenhum
modo, ou entendo demais: A fotografia do mártir Monsenhor Romero com João Paulo
II, em uns cartazes mais que normais para a visita do Papa, foi proibida pela
comissão mista Governo-Igreja de El Salvador. A imagem do mártir dói. Ao
Governo, perseguidor e assassino; e é natural que doa a certa Igreja..., também
é natural, tristemente natural”.
De
toda maneira, aqui neste rincão do Mato Grosso, como também muitos cristãos e
não cristãos da América e do Mundo, celebraremos outra vez, nesse mês de março,
o martírio de São Romero, bom pastor da América Latina. Tua imagem nos
conforta, nos compromete e nos une; como uma versão entranhável do Bom Pastor
Jesus.
E
agora estamos aí, milhões, de muitos modos, celebrando o jubileu de teu
testemunho definitivo, aquela homilia de sangue que ninguém calará. Tu tens
poder de convocação, um poder macroecumênico de santo dos católicos e dos
evangélicos e até dos ateus. Estamos aí celebrando, reparando, assumindo. Tu és
muito comprometedor; ao Jesus de Nazaré: esse Jesus histórico que tantas vezes
se nos desvanece em dogmatizações helenísticas e em espiritualismos
sentimentais, o Jesus Pobre solidário com os pobres, o Crucificado com os
crucificados da História.
Tinhas
razão, e isso queremos celebrar também, com júbilo pascoal. Ressuscitaste em
teu povo, que não permitirá que o império e as oligarquias continuem
submetendo-o, nem se deixará levar pelos revolucionários arrependidos ou pelos
eclesiásticos espiritualizados. E ressuscitas nesse Povo de milhões de
sonhadores e sonhadoras que cremos que outro Mundo é possível e que é possível
outra Igreja. Porque do jeito que a coisa vai, hoje, irmão, nem o Mundo vai e
nem a Igreja. As guerras continuam, até as “preventivas”; a fome continua, a
greve, a violência –do Estado ou da turba enlouquecida-; continuam as falsas
democracias, o falso progresso, os falsos deuses, que dominam com o dinheiro e
com a comunicação, com as armas e com a política. E continua havendo muita
Igreja muda. Passamos da Segurança Nacional à segurança do capital
transnacional e das ditaduras militares à macro ditadura do império neoliberal.
São 25 anos também da Conferência de Puebla. Aqueles rostos, Romero, que são o
próprio rosto de Jesus “fragmentado”, multiplicaram-se em número e em
deformação. Aquelas revoluções utópicas –belas e precipitadas como uma
adolescência da História- foram traídas por uns, desprezadas olimpicamente por
outros e continuam sendo recordadas com carinho –de outro modo, mais devagar,
com mais profundidade pessoal e comunitária- por muitas e muitos dos que
estamos aí contigo, pastor do “acompanhamento”, companheiro de pranto e de
sangue dos pobres da Terra. Como necessitamos hoje que ensines aos pobres a
“tomar corpo” de maneira solidária, organizados, teimosos na esperança!
Contigo,
dizia o mestre mártir Ellacuría, “Deus passou por El Salvador”, por todo nosso
mundo. E o teólogo de fronteira José Maria Vigil fez sobre ti três rotundas
afirmações que, mais do que verdades em que acreditar, são desafios urgentes
para ser assumidos:
Romero:
“símbolo máximo da opção pelos pobres e pela teologia da liberação”.
Romero:
“símbolo máximo do conflito da opção pelos pobres com o Estado”.
Romero:
“símbolo máximo do conflito da opção pelos pobres com a Igreja institucional”.
Não
quer dizer que tu deixaste de ser “Institucional” e comportado. Sempre me
admirou em ti a aliança da disciplina com a liberdade, da piedade tradicional
com a Teologia da Libertação, da profecia mais arrojada com o perdão mais
generoso. Eras um santo fazendo-se, em constante processo de conversão. Sobre
ti se tem repetido, de maneira edificante, que eras um bispo convertido. Com
Deus e com o Povo, sem dicotomias. “Eu, dizias, tenho que escutar o que diz o
Espírito por meio de seu Povo...” Tua homilia do dia 23 de março de 1980,
véspera da oblação total, a intitulaste precisamente assim: “A Igreja ao
serviço da libertação pessoal, comunitária, transcendente”.
Recordamos-te
tanto porque te necessitamos, Romero, irmão exemplar. Tu animas, tu continuas
predicando-nos a homilia da libertação integral. Tu continuas gritando: “Cesse
a repressão” a todas as forças repressoras na Sociedade, nas Igrejas, nas
Religiões. Tu nos advertes que “aquele que se compromete com os pobres tem que
percorrer o mesmo destino dos pobres: ser desaparecidos, ser torturados, ser
capturados, aparecer cadáveres”, e nos recordas que, comprometendo-nos com as
causas dos pobres não fazemos mais do que “predicar o testemunho subversivo das
Bem-Aventuranças, que deram novo sentido a tudo”.
Confiavas-e
não vamos defraudar-te que “enquanto haja injustiça haverá cristãos que a
denunciem e que se coloquem ao lado de suas vítimas”. Teu sangue, como pedias,
é verdadeiramente “semente de liberdade”.
Tua
memória não é simplesmente nostalgia nem uma veneração sacralizada que fica no
ar do incenso; queremos que seja, faremos com que seja compromisso militante,
pastoral de libertação. Nosso teólogo, o teólogo dos mártires, Jon Vi Gil, nos
resume dessa forma a tarefa evangelizadora e política que, por fidelidade a tua
memória, nos demanda hoje o Reino: Enfrentar-se à realidade com a verdade;
analisar a realidade e suas causas; trabalhar pela mudança estrutural; levar a
cabo uma evangelização madura, libertadora, crítica e autocrítica; construir a
Igreja como povo de Deus; dar esperança a esse Povo que tanto sofre...
Esta
semana de teu jubileu, em Sem Salvador, acabará sendo um sínodo popular, um
encontro de aspirações e compromissos dentro desse processo conciliar que
estamos vivendo, uma grande vigília pascoal em torno a ti e a tantos e tantos
testemunhos fiéis, conhecidos ou anônimos, porém, todos luminosos no livro da
Vida, seguidores até o fim do supremo Testemunho Fiel.
“Estamos
outra vez em pé de testemunho”, te dizia eu naquele poema. E, de verdade,
estamos. Somos do grande Fórum Social Mundial, com o Evangelho e pelo Reino, em
direção a um outro Mundo possível, em direção a uma outra Igreja-de Igrejas
unidas e libertadoras-, em direção a uma outra Pátria Grande, Nossa América do
Caribe e do Sul e da entranhável América Central; com um outro Norte, também
irmão, por fim desimperializado.
Anunciam-nos
a V Conferência Episcopal Latino-americana, possivelmente para realizar-se em
2007 e esperamos que seja na América Latina. Ajuda a prepará-la irmão. Faça
celestiais horas extras todos os santos e santas de Nossa América para que essa
Conferência seja um Medellín, atualizado.
Continuaremos
falando, irmão Romero. A cada dia. Tu acompanhando-nos desde a Paz total, pelo
caminho árduo e libertador do Evangelho. Tantas vezes nos sentimos como os
discípulos de Emaús, defraudados, sem rumo, porque “pensávamos que...”.
Muito
se tem falado de tua última homilia como de uma última palavra tua, um
testamento; Tu escreveste outra última palavra, mais definitiva ainda, porém
menos conhecida. No dia 19 de abril de 1980, Monsenhor Arturo Rivera Damas,
administrador apostólico de San Salvador, me escrevia: “… permitimos-nos
incluir aqui a carta que nosso querido Monseñor Romero deixou redigida no dia
de seu assassinato para ser assinada naquela noite. Agradecendo a você sua
solidariedade cristã para com ele e com nossa Igreja, pedimos-lhe que possamos
contar sempre com suas orações para que possamos continuar a obra que o Senhor
e a Igreja agora nos confiam e que, seguindo esses mesmos critérios, Monsenhor
Romero realizou...”.
Tua
carta, Romero, que guardamos em nosso arquivo, timbrada como “relíquia”, reza
assim:
“... Querido irmão no episcopado:
Com profundo afeto agradeço-lhe sua fraternal mensagem em
solidariedade pela perda de nossa emissora.
Sua calorosa adesão alenta consideravelmente a fidelidade a nossa
missão de continuar sendo expressão das esperanças e angústias dos pobres,
alegres por correr com Jesus os mesmos riscos, por identificar-nos com as
causas justas dos despossuídos. À luz da fé, sinta-me estreitamente unido no
afeto, na oração e no triunfo da Ressurreição.
Oscar
A. Romero, Arcebispo.
Querido
São Romero de América, irmão, pastor, testemunho: Tu vivias e davas a vida
porque acreditavas de verdade no “triunfo da Ressurreição”. Ajuda-nos a crer de
verdade nesse triunfo, para viver e dar vida como tu, com os pobres da Terra,
seguindo o Crucificado Ressuscitado Jesus.
Pedro Casaldáliga
24 de março de 2005.
Bispo emérito da Prelazia de São Felix do Araguaia
6 - CELEBRANDO OS 25 ANOS
DO MARTÍRIO DE DOM OSCAR ROMERO
“Se me matam,
vou
ressuscitar na luta do meu povo!”
(Oscar Romero)
Neste
ano estamos celebrando os 25 anos do martírio de dom Oscar Romero, momento de
recordar e de reafirmar o nosso compromisso com a Causa da Libertação. Por sua
fé, conversão, oração e simplicidade pastoral, por sua opção pelos pobres, por
suas homilias proféticas, por seu compromisso fidelíssimo no serviço ao Reino
de Deus dentro das exigências da História, este pastor admirável passou a ser
um verdadeiro “Santo Padre” de nossos tempos, um mártir protótipo do
Continente, um santo totalmente nosso. O dia do seu martírio, 24 de março, é
uma data martirial consagrada e sua fotografia está presente em igrejas,
capelas, centros comunitários e casas de família de nossa América e do Mundo.
Estamos
oferecendo um roteiro de celebração para que as pessoas, comunidades, igrejas,
entidades, movimentos populares e sociais possam celebrar este acontecimento.
Será um momento de juntar as pessoas. Momento de reacender a chama da nossa
utopia, de recriar a festa da vida e do compromisso. Momento de honrar a
memória de todo aquele, de toda aquela, que caíram lutando contra o império da
morte. Momento de assumirmos comprometidamente as grandes Causas da Vida, as
CAUSAS DO REINO.
Orientações e sugestões:
Para
que esta celebração possa acontecer de maneira orante, simbólica e amorosa, é
necessário preparar bem todas as coisas.
Criar
uma equipe de celebração. Esta equipe deve estudar o roteiro, e, se precisar,
adaptá-lo à realidade dos/as participantes e do lugar;
Distribuir
os vários serviços, vivenciar os vários elementos da celebração e ensaiar bem
os cantos;
Arrumar
o espaço da celebração, para que seja um ambiente acolhedor, orante, simples e
belo;
Preparar
uma cruz rústica, enfeitada com fitas, com as cores da Wiphala (branco,
vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, roxo). A Wiphala é a bandeira da
resistência latino-americana: símbolo da irmandade da comunidade; símbolo de
paz, liberdade, justiça, resistência; símbolo político-social-comunitário;
Confeccionar
um estandarte ou uma bandeira de dom Oscar Romero;
Preparar
pão de milho (ou com outro produto próprio da região) e suco da nossa terra
(frutas regionais);
O
Hino “Profecia” de Reginaldo Veloso se encontra no CD Vida, o sonho de Deus (Paulus);
Para
o final da meditação sugerimos a proclamação de alguns trechos das homilias do
nosso santo Oscar Romero. Há comunidades que têm estas homilias gravadas; neste
caso poderiam ser utilizadas;
- Uma outra sugestão de celebração poderá
ser encontrada no Ofício dos Mártires da caminhada latino-americana (Paulo).
1. Chegada: entrega
de fitas com as cores da Wiphala, velas e saudação fraterna a cada pessoa.
Toque de algum instrumento musical (flauta, atabaque, tambor, berrante, pau de
chuva...).
Estando as luzes apagadas, canta-se um
refrão meditativo:
Vidas pela vida, / vidas pelo Reino, / vidas
pelo Reino.
Todas as nossas vidas, / como as suas vidas,
como a vida d’Ele, / o Mártir Jesus!
Após o refrão, uma pessoa acende o círio e
proclama:
Bendito sejas, Deus da vida, pela luz de
Cristo, o Mártir Jesus,
e por Dom Oscar Romero testemunha da sua
Páscoa!
Todos acendem suas velas
Vidas pela vida, / vidas pelo Reino, / vidas
pelo Reino.
Todas as nossas vidas, / como as suas vidas,
como a vida d’Ele, / o Mártir Jesus!
3. Abertura
Em nome do Pai de todos os Povos,
Nós estamos aqui!
Em nome de Deus de todos os nomes
- Javé, Obatalá, Olorum,
Maíra de tudo, excelso Tupã,
Nós estamos aqui!
Em nome do Filho, que a todos os povos nos
faz ser irmãos e irmãs,
Nós estamos aqui!
Em nome do Espírito de amor que está em
todo amor,
Nós estamos aqui!
Em memória da páscoa jubilar
de Dom Oscar Romero,
pastor e mártir da nossa América.
Nós estamos aqui!
Em nome das vidas dadas pela Vida,
dadas pelo Reino, cantamos, Senhor!
Pai-nosso, dos pobres marginalizados!
Pai-nosso, dos mártires, dos torturados!
Teu nome é santificado
naqueles que morrem defendendo a vida.
Teu nome é glorificado
quando a justiça é nossa medida.
Teu reino é de liberdade,
de fraternidade, paz e comunhão;
maldita toda violência,
que devora a vida pela repressão.
Queremos fazer tua vontade;
és o verdadeiro Deus libertador.
Não vamos seguir as doutrinas
corrompidas pelo poder opressor.
Pedimos-te o Pão da vida,
o pão da segura, o pão das multidões,
o pão que traz humanidade,
que constrói a vida em vez de canhões.
Perdoa-nos quando por medo,
ficamos calados diante da morte!
perdoa e destrói os reinos
em que a corrupção é a lei mais forte.
Protege-nos da crueldade
do esquadrão da morte, dos prevalecidos.
Pai-nosso, revolucionário,
parceiro dos pobres, Deus dos oprimidos!
5. Sentido da celebração e
Recordação da vida
Irmãs e irmãos, com a alegria da Páscoa,
estamos celebrando os 25 anos do martírio de Dom Oscar Romero. Jubileu
martirial! Jubileu latino-americano e da nova mundialidade. Jubileu de memória,
testemunho, palavra, fidelidade, coragem, sangue e profecia, hoje na nossa
América-Latina, na nossa Afroameríndia, neste “outro mundo possível”.
Somos convidas e convidados a recordar a vida, a
história do pastor e mártir da nossa América, Dom Oscar Romero tendo presente
sua repercussão em nossas vidas, em nossas comunidades e no mundo; e também de
outras pessoas que deram e dão suas vidas pela causa do Reino... (Criar um
espaço para as pessoas de mais tempo de caminhada façam memória da história de
Dom Oscar Romero e concluir com estas palavras ou outras):
“Nós acreditamos na vitória da Ressurreição”.
Foram as últimas palavras que Dom Oscar Romero escreveu nesta vida. E estava em
plena Eucaristia pedindo “que este Corpo
e este Sangue nos alimentem para entregarmos também o nosso corpo...”, quando
caiu baleado, detrás do altar, aos pés do grande Crucifixo.
6. Hino
Profecia – Reginaldo Veloso (Durante
o hino uma pessoa entra com um estandarte de Dom Oscar Romero)
Oscar Romero! Oscar Romero! Oscar Romero!
“Se me matam, vou ressuscitar na luta do
meu povo!”
Do coração da América ferido
eu vi de sangue ondular um rio...
Era semente o sangue, era de Cristo,
e fecundava a terra em seu cio!
Do coração da América ferido
espigas vi brotar no chão florido,
e a primavera fez-se estio amigo,
e cem por um frutificou o trigo!
Do coração da América ferido
ouvi largar e ecoar um grito...
Mortal me ressoava ao ouvido,
mas foi de parto a dor de tal gemido!
Do coração da América ferido
eu vi o sol raiar com novo brilho
no mundo, pelo sangue redimido;
da liberdade eu vi nascer o Filho!
7. Salmo 23
Cantemos, bendizendo ao Senhor
pelo Pastor de nossas vidas, pelo testemunho, palavra, sangue e profecia de Dom
Oscar Romero e pela nossa caminhada de libertação.
O Senhor é meu Pastor,
nada me pode faltar.
Onde houver muita fartura,
onde houver muita fartura,
Ele aí vai me levar
Para as fontes de água fria
Ele vai me conduzir;
eu repouso e ganho força,
eu repouso e ganho força,
e vontade de sorrir.
Por caminhos bem traçados,
Ele me faz caminhar;
nas passagens perigosas,
nas passagens perigosas,
Ele vem me acompanhar.
Me prepara mesa farta,
do inimigo invejar.
Vem, me abraça e põe perfume,
vem, me abraça e põe perfume,
faz minha taça transbordar!
Me acompanha noite e dia
tua força e teu amor;
vou morar na tua casa,
vou morar na tua casa,
toda a
vida, meu Senhor!
Glória ao Pai, glória a seu Filho,
Glória ao Espírito Divino.
Ao Pastor de nossas vidas,
ao Pastor de nossas vidas,
ofertamos este hino.
8. Aclamação ao Evangelho
Aleluia, alegria, aleluia,
Aleluia, aleluia!
Ele falou: Não existe maior prova, minha
gente,
dar a vida pela Vida, aleluia!
9. Evangelho: João 15,9-13
Durante
a festa da páscoa, na última ceia com os seus apóstolos, Jesus anuncia o
mandamento do Maior Amor: dar a vida pelos amigos. Acolhamos este
ensinamento-testamento de Jesus.
10. Meditação
– silêncio... partilha... refrão:
Após alguns instantes de silêncio
convidar para a partilha da palavra (ressoar palavras ou frases do texto
bíblico que mais nos tocaram, e os apelos e compromissos que esta palavra
provoca na minha vida hoje) e concluir proclamando, de maneira solene, uma das
homilias de Dom Oscar Romero
“São
Romero da América, pastor e mártir nosso, ninguém há de calar tua última
homilia!”
Voz 1: Cristo
nos convida a não ter medo da perseguição porque, creiam, irmãos, aqueles que se comprometem com os
pobres têm que seguir o mesmo destino dos pobres. E em El Salvador já sabemos o
que significa o destino dos pobres: ser desaparecidos, ser torturados, ser
capturados, aparecer cadáveres...
Estas
mortes, ao invés de apagar em nós o ardor da fé, entusiasmam ainda mais o vigor
de nossas comunidades...
Todas: Se me matam, vou ressuscitar na luta do meu
povo!
Voz 2: Me
alegro, irmãos, de que nossa Igreja seja perseguida, precisamente por sua opção
pelos pobres e por tratar de encarnar-se no meio deles.
Seria
triste que, em uma pátria onde se está assassinando tão horrorosamente, não
contássemos também entre as vítimas com sacerdotes. São testemunho de uma
Igreja encarnada nos problemas do povo... Aqueles que caem na luta, contanto
que tenha sido por amor sincero ao povo e buscando a verdadeira libertação,
devemos considerá-los para sempre presentes entre nós...
Todas: Se me matam, vou ressuscitar na luta do meu
povo!
Voz 3: Quero assegurar a vocês e peço suas
orações para ser fiel a esta promessa: que não abandonarei meu povo, mas
correrei com ele todos os riscos que meu ministério exige...
Tenho
sido freqüentemente ameaçado de morte. Devo dizer-lhes que como cristão não
creio na morte, mas sim na ressurreição. Se me matarem, ressuscitarei no povo
salvadorenho. Isto lhes digo sem nenhum orgulho, mas com a maior humildade...
como pastor estou obrigado por lei divina a dar minha vida por aqueles que amo,
que são todos os salvadorenhos, mesmo por aqueles que vão me matar. Se chegarem
a cumprir as ameaças, desde já ofereço a Deus o meu sangue pela redenção e
salvação de El Salvador.
Todas: Se me matam, vou ressuscitar na luta do meu
povo!
Voz 1: O martírio é uma graça que não creio
merecer. Mas se Deus aceita o sacrifício de minha vida, que meu sangue seja
semente de liberdade e sinal de que a esperança será em breve uma
realidade...”.
Todas: Se me matam, vou ressuscitar na luta do meu
povo!
11. Preces
Irmãs
e irmãos, neste clima de memória jubilar, ampliamos a nossa memória invocando
outros nomes, outros lugares e outras lutas. Nomes de mulheres e homens que
deram suas vidas por causa do Amor Maior; os lugares, o chão sagrado, martirial
e de resistência popular; e também todas as nossas outras lutas, as nossas
bandeiras e nossas utopias.
(Depois de cada nome a assembleia responde):
Presente em nossa caminhada!
De
ombros unidos ou de mãos dadas, formando uma grande roda de irmandade e de
testemunhas, num instante de silêncio somos convidados e convidadas a assumir o
nosso compromisso de manter viva a memória dos mártires, sendo solidários,
solidárias, com as causas pelas quais eles e elas deram suas vidas...
12. Refeição fraterna
(Sentados/as no chão, na roda da vida, ao som
da flauta ou de outro instrumento musical ou com o canto da missa campesina:
“Eu te oferto, Senhor”, entram pessoas com uma toalha típica do lugar, pão de
milho e suco, e, em seguida proclama-se trechos do poema de Pedro Casaldáliga:)
. São Romero da América, pastor e mártir
Tu ofertavas o
Pão, o Corpo Vivo.
- o triturado
corpo de teu Povo;
Seu derramado
Sangue vitorioso –
o sangue
campesino de teu Povo em massacre,
que há de
tingir em vinhos de alegria a Aurora conjurada!
E soubeste beber
o duplo cálice
do Altar e do Povo,
com uma só
mão consagrada ao Serviço.
14. Bênção e partilha dos alimentos
C: Irmãs e
irmãos,
Louvemos
o Senhor porque ele é bom!
T: Eterno é
seu amor!
C: Louvemos a
Deus porque ele nos amou primeiro!
T: Eterno é
seu amor!
C: Por todas
as maravilhas de Deus em favor do seu povo, bendizemos ao Senhor!
T: Graças a
Deus!
C: Para nós é
um prazer
bendizer-te, ó Senhor.
celebrar
o teu amor
por
Jesus teu bem-querer!
Hoje o
sangue semeado
frutifica em louvação,
pois não
há libertação
sem o
sangue derramado.
Apresentando
a comida:
Ö Senhor,
te bendizemos
por comida
tão gostosa,
que com
mãos bem generosas
entre nós
partilharemos!
Apresentando
a bebida:
Ó Senhor, te bendizemos
por
beber de tal delícia,
que
entre nós com alegria
como
irmãos dividiremos!
Finalmente a nossa boca,
inspirada por teu Filho,
e
seguindo o seu ensino,
o teu
santo nome invoca:
T: Pai
nosso..., pois vosso é o reino, o poder e a glória para sempre.
C: Amém!
Aleluia! Amém! Aleluia
T: Amém! Aleluia! Amém! Aleluia
C: Amém!
Aleluia! Amém! Aleluia
T: Amém! Aleluia! Amém! Aleluia
C: Vocês todos e todas, que têm fome e
sede de justiça, venham e comam o pão
de milho, pão da Ameríndia, hóstia da Nossa América e o suco da terra, sangue
da nossa Pachamama.
Canto: Prova de amor maior não
há
que doar a vida pelo irmão!
Eis que eu vos dou o meu novo
mandamento:
“Amai-vos uns aos outros como eu
vos tenho amado!”
Vós sereis os meus amigos, se
seguirdes meu preceito:
“Amai-vos uns aos outros como eu vos
tenho amado!”
Como o Pai sempre me ama, assim
também eu vos amei:
“Amai-vos uns aos outros como eu
vos tenho amado!”
Permanecei em meu amor e segui meu
mandamento:
“Amai-vos uns aos outros como eu
vos tenho amado!”
E chegando a minha Páscoa, vos amei
até o fim:
“Amai-vos uns aos outros como eu
vos tenho amado!”
Nisto todos saberão que vós sois os
meus discípulos:
“Amai-vos uns aos outros como eu
vos tenho amado!”
Envio:
Com Cristo e suas testemunhas
seguiremos cantando a Libertação.
Por Ele e com elas
saberemos que vamos ressuscitar
“mesmo nos custando a
vida”.
Agora e para sempre.
- Amém, Axé, Awere, Aleluia!
Pedro Casaldáliga e Laudimiro Borges
(Mirim)
7 - Algumas Frases- Mensagens libertadoras-
de Dom Oscar Romero
“Irmãos, eu gostaria de gravar no coração de cada um esta ideia: o cristianismo não é um conjunto de verdades nas quais devemos acreditar de leis que devem ser cumpridas, de proibições! Assim se torna muito repugnante. O cristianismo é uma pessoa, que me nos amou tanto, que pede nosso amor. O cristianismo é Jesus Cristo e o evangelho”.
“Que maravilha será o dia que cada batizado compreender que sua profissão, seu trabalho, é um trabalho sacerdotal; que, assim como eu celebro a missa no altar, cada carpinteiro celebra sua missa na sua carpintaria, cada profissional, cada médico com seu bisturi, a mulher na feira, no seu lugar de trabalho… estão fazendo um ofício sacerdotal”.
“Uma religião de missa dominical, mas de semanas injustas não agrada ao Deus da Vida. Uma religião de muita reza, mas de hipocrisias no coração não é cristã. Uma Igreja que instala só para estar bem, para ter muito dinheiro, muita comodidade, porém que não ouve os clamores das injustiças não é a verdadeira igreja de nosso Divino Redentor”.
“Ainda quando nos chamem de loucos, ainda quando nos chamem de subversivos, comunistas e todos os adjetivos que se dirigem a nós, sabemos, que não fazemos nada mais do que anunciar o testemunho subversivo das bem-aventuranças, que proclamam bem-aventurados os pobres, os sedentos de justiça, os que sofrem”.
“Muitos querem que o pobre sempre diga que é “vontade de Deus” que assim sobreviva. Não é vontade de Deus que uns tenham tudo e outros não tenham nada. Não pode ser de Deus. A vontade de Deus é que todos os seus filhos e filhas sejam felizes”.
“É ridículo dizer que a Igreja se tornou marxista. Porém há um "ateísmo" mais próximo e mais perigoso para nossa igreja: o ateísmo do capitalismo, quando os bens materiais se tornam ídolos e substituem Deus”.
“Uma igreja que não sofre perseguição, mas que desfruta privilégios e o apoio de coisas da terra – Tenham Medo! – não é a verdadeira igreja de Jesus Cristo”.
“Quantos hão que não dizem ser cristãos, porque não têm fé…! Têm mais fé no seu dinheiro e em suas coisas do que no Deus que criou tudo”.
“Para que servem belas estradas e aeroportos, belos edifícios e grandes palácios, se foram construídos com o sangue de pobres que jamais vão desfrutá-los?”
“Não nos cansemos de denunciar a idolatria da riqueza, que faz consistir a grandeza da pessoa humana no ter e esquece que a verdadeira grandeza é ser. A pessoa humana não vale pelo que tem, mas pelo que é e faz".
“ Devemos buscar o menino Jesus, não nas imagens bonitas de nossos presépios. Devemos buscá-lo entre as crianças denutridas que foram dormir esta noite sem ter o que comer, entre os pobres vendedores de jornal que dormiram muito mal”.
“Não é um prestígio para a Igreja estar bem com os poderosos. Prestígio para a igreja é sentir que os pobres a sente como sendo sua, sentir que a igreja vive uma dimensão na terra, chamando todos, também os ricos, à conversão e à salvação a partir do mundo dos pobres, porque eles são unicamente os bem-aventurados”.
“Irmãos, eu gostaria de gravar no coração de cada um esta ideia: o cristianismo não é um conjunto de verdades nas quais devemos acreditar de leis que devem ser cumpridas, de proibições! Assim se torna muito repugnante. O cristianismo é uma pessoa, que me nos amou tanto, que pede nosso amor. O cristianismo é Jesus Cristo e o evangelho”.
“Que maravilha será o dia que cada batizado compreender que sua profissão, seu trabalho, é um trabalho sacerdotal; que, assim como eu celebro a missa no altar, cada carpinteiro celebra sua missa na sua carpintaria, cada profissional, cada médico com seu bisturi, a mulher na feira, no seu lugar de trabalho… estão fazendo um ofício sacerdotal”.
“Uma religião de missa dominical, mas de semanas injustas não agrada ao Deus da Vida. Uma religião de muita reza, mas de hipocrisias no coração não é cristã. Uma Igreja que instala só para estar bem, para ter muito dinheiro, muita comodidade, porém que não ouve os clamores das injustiças não é a verdadeira igreja de nosso Divino Redentor”.
“Ainda quando nos chamem de loucos, ainda quando nos chamem de subversivos, comunistas e todos os adjetivos que se dirigem a nós, sabemos, que não fazemos nada mais do que anunciar o testemunho subversivo das bem-aventuranças, que proclamam bem-aventurados os pobres, os sedentos de justiça, os que sofrem”.
“Muitos querem que o pobre sempre diga que é “vontade de Deus” que assim sobreviva. Não é vontade de Deus que uns tenham tudo e outros não tenham nada. Não pode ser de Deus. A vontade de Deus é que todos os seus filhos e filhas sejam felizes”.
“É ridículo dizer que a Igreja se tornou marxista. Porém há um "ateísmo" mais próximo e mais perigoso para nossa igreja: o ateísmo do capitalismo, quando os bens materiais se tornam ídolos e substituem Deus”.
“Uma igreja que não sofre perseguição, mas que desfruta privilégios e o apoio de coisas da terra – Tenham Medo! – não é a verdadeira igreja de Jesus Cristo”.
“Quantos hão que não dizem ser cristãos, porque não têm fé…! Têm mais fé no seu dinheiro e em suas coisas do que no Deus que criou tudo”.
“Para que servem belas estradas e aeroportos, belos edifícios e grandes palácios, se foram construídos com o sangue de pobres que jamais vão desfrutá-los?”
“Não nos cansemos de denunciar a idolatria da riqueza, que faz consistir a grandeza da pessoa humana no ter e esquece que a verdadeira grandeza é ser. A pessoa humana não vale pelo que tem, mas pelo que é e faz".
“ Devemos buscar o menino Jesus, não nas imagens bonitas de nossos presépios. Devemos buscá-lo entre as crianças denutridas que foram dormir esta noite sem ter o que comer, entre os pobres vendedores de jornal que dormiram muito mal”.
“Não é um prestígio para a Igreja estar bem com os poderosos. Prestígio para a igreja é sentir que os pobres a sente como sendo sua, sentir que a igreja vive uma dimensão na terra, chamando todos, também os ricos, à conversão e à salvação a partir do mundo dos pobres, porque eles são unicamente os bem-aventurados”.